Por: Sérgio Cabral

Jabuticabas

A TV aberta ainda é a única opção de milhões e milhões de brasileiros, que não têm recursos para assinar TV a cabo e streaming. | Foto: Ricardo IV Tamoyo/Unsplash

O Brasil é um país curioso. Suas curiosidades normativas e legais têm idiossincrasias que, no fim do dia, geram um divórcio entre as leis e os costumes e hábitos da nossa população, e com repercussões negativas em todas as áreas da atividade humana. Da perda da oportunidade de novos empregos, de receitas tributárias importantes, e da segurança pública da sua população, entre outras repercussões.

Exemplo: Hoje, a(o) cidadã(o) pode fazer apostas em uma série de plataformas digitais, as bets. Beleza. Mas se um empreendedor desejar abrir um cassino no Brasil, será preso. Se o funcionário do jogo do bicho for pego, será preso. Se abrir uma casa de bingo, será preso. Mas se a pessoa quiser abrir uma plataforma bet, ok.

Sou a favor da liberação dos jogos no Brasil. Cassinos em destinos turísticos do país gerarão receitas e empregos diretos e indiretos. Quanto mais atrações, mais os turistas permanecem no destino.

O jogo do bicho é criação carioca, do Barão de Drummond, e estendida para todo o Brasil. Hábito popular. Por que a pessoa pode entrar numa casa lotérica e apostar e não pode jogar no bicho? Ou no bingo? Mas pode jogar nas bets!

Legalizar significa acabar com a corrupção alimentada pela proibição, terminar com a guerra entre grupos rivais pelo controle de territórios, fazer o poder público ter receitas novas, e milhares de pessoas que trabalham de forma clandestina terem dignidade no seu trabalho.

Vamos à outra "curiosidade" brasileira. Habitualmente chamada de "jabuticaba": a TV aberta.

Hoje, os brasileiros têm acesso a aplicativos de toda a ordem em seus celulares e computadores. Podemos assistir a streamings oriundos de todo o canto. Além da TV a cabo e seus múltiplos canais.

Entretanto, a TV aberta ainda é a única opção de milhões e milhões de brasileiros, que não têm recursos para assinar TV a cabo e streaming. E aí fica a pergunta: por que a legislação proíbe o controle acionário de estrangeiros nos canais de TV aberta? Qual a razão para isso?

A legislação brasileira permite o capital estrangeiro nos mais diversos setores do país. Empresas estrangeiras podem adquirir indústrias, bancos, financeiras, rodovias, portos, mineração, petróleo, aeroportos, hidrelétricas, etc. Mas…TV aberta só pode ter o controle acionário de brasileiros. Isso significa impedir que a massa mais pobre do país tenha a oportunidade de opções mais variadas de informação e entretenimento em seus lares. Impede a geração de empregos para milhares de profissionais do jornalismo e do audiovisual; regra legal incompreensível.

Milhões de brasileiros acessam a televisão aberta como única opção. Temos grupos de comunicação de grande qualidade para encarar grupos estrangeiros do setor. E o curioso é que leio e ouço nos editoriais dos grupos de comunicação do país a defesa da abertura ao capital estrangeiro nas mais diversas áreas da economia. Por que não às TVs abertas? Qual o temor? Qual a razão?

*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho