Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Antonio Carlos da Fontoura : 'Escutei Brasília com a pulsão da sua música'

O cineasta Antonio Carlos da Fontoura em sua passagem pela Berlinale | Foto: Acervo pessoal

Dois anos depois de ter rodado o planisfério cinéfilo, a partir da Berlinale de 2023, com uma cópia novinha em folha de "Rainha Diaba" (1973), o diretor Antonio Carlos da Fontoura viverá um dia de rock em 27 de março. Roteirista exemplar, na TV e nas telonas, o cineasta terá um novo encontro marcado com a saudade (e com a excelência de sua obra) com a celebração (póstuma) dos 65 anos de Renato Russo (1960-1996). Às 21h da próxima quinta, semana que vem, o Estação NET Rio exibe "Somos Tão Jovens" (2013), a cinebiografia do bardo roqueiro dirigida por Fontoura.

É uma projeção comemorativa do aniversário do ídolo que ajudou a fazer da Legião Urbana um patrimônio canoro do Brasil. Os tíquetes já estão à venda, inclusive no Ingresso.com.

Sua bilheteria, no lançamento comercial, deixou exibidores aos sorrisos, diante de 1.703.776 ingressos vendidos. Thiago Mendonça assume o papel principal do longa, que aborda a juventude do músico - ainda chamado Renato Manfredini Jr. - em suas primeiras investigações poéticas e afetivas. Impecável na direção de atores, Fontoura arranca de seu protagonista uma atuação comovente. O roteiro de Marcos Bernstein serviu como um pilar para o cineasta demarcar sua voz autoral no olhar sobre as convenções existenciais do início da idade adulta.

Realizador do cult "Copacabana Me Engana" (1968), Fontoura conversou com o Correio da Manhã sobre sua imersão no B-Rock e na geografia sentimental do Distrito Federal, com direito a pílulas acerca de seus novos projetos.

Onde (e como) é que o Renato Russo entra na sua vida e de que forma sua carreira ganha novo impulso ao falar dele?

Antonio Carlos da Fontoura: Admirava o Renato, mas não planejava um filme sobre ele. Filmando "Gatão De Meia Idade" no Jardim Botânico (em 2004), num intervalo de filmagem, eu me deparei com meu amigo Luiz Fernando Borges, amigo de fé de Renato Russo, que tinha recebido a permissão da família de Renato para encontrar o realizador de um filme sobre ele. Entendi imediatamente que o destino me chamava. Assim começou "Somos Tão Jovens", uma inesperada e impulsionadora aventura como diretor e como produtor.

Qual foi o rock'n'roll que fez a sua cabeça e a da sua geração e de que forma a música dele, do Legião, do B-Rock, representou uma descoberta para você?

O rock que fez minha cabeça foi o dos anos 1970 e 80, o mesmo que fez a cabeça de Renato, quando ele começou a cantar suas criações na banda Aborto Elétrico e em suas apresentações como O Trovador Solitário.

Que descobertas sobre Brasília e sobre uma cultura musical veio a reboque do filme?

Descobri Brasília em seus festivais de cinema, mas em "Somos Tão Jovens", revi a cidade com os olhos do Renato, escutei Brasília com a pulsão da sua música, reencontrei a Brasília dos anos 1980, onde Renato plantou as sementes da Legião Urbana.

O que você filma agora, que projetos?

Quanto aos novos projetos, tenho muitos, mas agora estou mais focado em dois: o longa de realismo fantástico "A Mãe Do Sonho" e o documentário "Geração Prateada", que empodera a minha geração, pois estou por aqui há 85 anos e aprendi a proclamar, como Renato, "Força Sempre!".