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Modernismo não é coisa do passado

Em 'Aqueles Dias', Hélio Goldsztejn carrega a essência estética da geração modernista de 1922 com uma narrativa contemporânea, procurando conectar as novas gerações de nomes como Anita Malfatti, Tarsila do Amara, Oswald de Andrade e Mário de Andrade | Foto: Divulgação

Por Guilherme Luís (Folhapress)

Para marcar o aniversário de 103 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, a TV Cultura exibirá a partir desta quinta-feira (13) a série "Aqueles Dias", que narra os dramas e os feitos dos artistas mais emblemáticos do período modernista. E, para dar um toque de modernidade à trama, a série de quatro episódios mistura Anita Malfatti, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, entre outras figuras da época, a personagens inventados, como Jení, uma mulher trans que viaja no tempo e leva fofocas sobre a política de hoje.

Exibida como longa-metragem em outubro durante a Mostra de Cinema Internacional de São Paulo, "Aqueles Dias" vinha desde então pleiteando veículos para ser exibida. Helio Goldsztejn, o criador, diz que levar a série à TV aberta e democratizar seu acesso é como atender aos propósitos do próprio modernismo, que buscava, por essência, a valorização da cultura nacional.

"A proposta desses artistas era de que o universo da arte não ficasse restrito ao prato do dia. Depois da Mostra pensamos 'vamos abrir as portas?'", diz Goldsztejn.

Por isso ele fugiu de usar a linguagem acadêmica e didática que costuma rondar o modernismo, ou qualquer outro movimento histórico. Preferiu uma trama menos cabeçuda, com cara de entretenimento, para alcançar um público maior - e mais jovem.

Apelou, então, para os memes. Seus personagens soltam vez ou outra gírias como "errado não tá" e "ele que lute", usadas nas redes sociais. Além disso, Goldsztejn, que também dirigiu a série, fez os protagonistas usarem celulares - o que acelera a trama e facilita certos impasses em cena.

Dessa forma, diz o diretor, a série consegue mostrar como a sociedade de hoje ainda está muito próxima daqueles tais dias que batizam a obra. "Veja as discussões que nós temos sobre gênero e racismo, ou as mudanças que tem acontecido em relação aos imigrantes [nos Estados Unidos]. Tudo isso já existia naquela época, ainda que de uma forma mais embrionária"

"Aqueles Dias" segue em exibição na TV Cultura até domingo. Goldsztejn agora negocia para que a série entre no catálogo de uma plataforma de streaming. "Exibir na Mostra de Cinema foi o pontapé inicial, onde houve vários debates. Mas, agora, na televisão, é quando nós teremos uma medida de resultado maior", acredita o realizador.