Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Governo busca ressaltar pautas populares de esquerda

Lula quer sair do canto e partir para o ataque | Foto: Ricardo Stuckert/PR

A ida do presidente Lula (PT) a um acampamento de agricultores sem-terra e a desapropriação de sete fazendas para reforma agrária indicam uma preocupação do governo em não perder um discurso mais à esquerda.

Há uma tentativa de provocar temas populares e que tenham capacidade de gerar constrangimento na direita, que há alguns anos domina a pauta do debate público.

No sábado, em entrevista ao podcast Flow, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi na mesma linha, ao desafiar o PL de Jair Bolsonaro a aprovar projetos que limitam a aposentadoria de militares e os supersalários em poderes da República.

Segundo ele, se o PL aceitar, os dois projetos seriam aprovados em duas semanas.

 

Gleisi

A nomeação de Gleisi Hoffmann para o Ministério de Relações Institucionais entra no pacote. Apesar dos riscos envolvidos com a escolha da deputada, que tem fama de brigona, o governo tenta sair das cordas e levantar assuntos que a direita tenha dificuldade de encarar.

Simpatia

Segundo um petista ligado ao Planalto, o problema do governo não é do enfrentar uma eventual concorrência à esquerda, até por ausência de alguém de fora do PT que possa desafiar a hegemonia de Lula. O desafio é de criar simpatia para temas desprezados pela direita.

Escolha de acampamento procurou reforçar produção

Patrícia Pillar interpretou sem-terra em "O rei do gado" | Foto: Divulgação/TV Globo

A escolha do acampamento de sem-terra que visitado por Lula tem a ver com esses objetivos. Trata-se de uma área em Minas Gerais chamada de Quilombo Campo Grande, onde havia uma usina de açúcar que faliu sem pagar dívidas.

Ocupada desde 1998, a área abriga 450 famílias que cultivam alimentos como hortaliças, café, feijão e mandioca — o governo quer mostrar que esses agricultores são produtivos.

Vistos com simpatia nos anos 1980/1990, viraram até personagens de novelas da Globo, os sem-terra, com o crescimento do agronegócio, acabaram associados apenas à invasão de propriedades.

Tangente

A estratégia de pressionar a direita é arriscada, mas gerou alguns resultados. Ontem, em entrevista à Globonews, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), buscou uma saída pela tangente ao ser perguntado sobre previdência de militares e imposto para ricos.

Sem impostos

Ele respondeu que o PT não tinha moral para falar da previdência dos fardados porque tinha votado contra a reforma do sistema e que o problema dos militares não era assim tão relevante. Acrescentou que era contra aumento de impostos para todos, ricos ou pobres.

Agora vai

Findo o Carnaval, o Congresso deverá, enfim, começar seus trabalhos. Há um certo consenso de que, depois do acordo com o Supremo Tribunal Federal sobre emendas, o orçamento de 2025 será, enfim, pautado, votado e aprovado. O Centrão avalia que agora vai.

Impasse

A direita vive um impasse gerado pela insistência de Jair Bolsonaro em se dizer candidato em 2026. Pressionado por empresários e por menos radicais,Tarcísio de Freitas insiste que tentará a reeleição para o governo paulista e, nos bastidores, é sabotado por bolsonaristas-raiz.