Ao relembras as dezenas de fotos que já exibiu nas paredes do Berlinale Palast, ao longo das últimas duas semanas, como uma galeria de atualização constante em meio a um dos maiores festival do mundo, o retratista alemão Jens Koch esbanja entusiasmo ao contar os bastidores dos cliques que fez com o ator nova-iorquino Timothée Chalamet.
"Tenho um crush nele", disse o fotógrafo alemão, ao relembrar a sessão para retratar o astro hoje indicado ao Oscar por "Um Completo Desconhecido", no papel do músico Bob Dylan. "Ele foi super simpático, falando por horas sobre Dylan e sua imersão no papel".
Há cinco anos, quando a gestão do diretor artístico Dieter Kosslick sobre a Berlinale chegou ao fim, após uma estrada longa (de 2001 a 2019), uma nova curadoria, formada por Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian, instalou-se na maratona cinéfila germânica. Levaram Koch para a equipe, apoiados no prestígio que ele já ostentava ao lidar com obturadores e fotômetros. A ideia era ter alguém que registrasse, dia a dia, as expressões de artistas em briga por prêmios, de realizadores e protagonistas das produções hors-concours e de estrelas homenageadas. A partir dessa demanda, ele foi desfilando talento a partir de 2020, extraindo poses lendárias de Adam Sandler, Cate Blanchett, Lupita Nyong'o, John Malkovich, Sigourney Weaver, Martin Scorsese e outras celebridades do mais alto quilate. Cada enquadramento dele era (e é) mais inventivo do que outro. Não por acaso, este ano, quando a linha curatorial de Berlim mudou, com a chegada de uma nova programadora, Tricia Tuttle, ele ficou. Daí vieram retratos exuberantes como o plácido 3x4 da brasileira Denise Weinberg, sensação deste festival à frente de "O Último Azul", competidor nacional. Colega dela nesse badalado longa-metragem, Rodrigo Santoro também rendeu um instantâneo poético à luz do artesão do flash, assim como a oscarizada Jessica Chastain, no páreo do Urso de Ouro com "Dreams". Falando de Oscar, Bong Joon Ho, ganhador da Palma de Ouro de 2019 e de quatro estatuetas hollywoodianas por "Parasita", também foi clicado na festa cinematográfica berlinense, ao exibir "Mickey 17".
"A variedade de pessoas é grande e há uma intenção de que o retrato se encaixe com a persona retratada ou com o filme que ela representa, mas esse trabalho é uma loteria, pois nem sempre sei o estado de espírito em que a estrela a ser fotografada vai chegar para a sessão de retratos", contou Koch ao CORREIO DA MANHÃ. "Cada foto é um desafio nesse aspecto, pois o meu maior desejo é que a pessoa se sinta bem. Alguns chegam excitados, pois têm uma conferência de imprensa para dar a seguir. Estes eu tenho que acalmar, na conversa, na escuta. Já quem tem ligação com Hollywood chega menos tenso, pois está mais acostumado com o processo midiático de fotos".
Em seu histórico de trabalho, consta uma história de fazer inveja às narrativas que brigam pelo Urso de Ouro: em 2010, Koch e um colega jornalista, Marcus Hellwig, passaram quatro meses presos no Irã, sob ameaça de uma pena maior, por terem entrado naquele país com o visto de turista e não o de repórter, para fazerem uma entrevista que não desceu bem na garganta das autoridades iranianas. O calvário foi longo, mas eles acabaram sendo soltos.
Hoje Koch usa a palavra "pesadelo" para definir o que passou, sem entrar em detalhes. Prefere falar das estrelas da Berlinale. "Quando fui fotografar Isabelle Huppert, pedi que ela encarnasse uma diva. Ela topou e se jogou na brincadeira", diz Koch. "É bom quando um astro não se leva a sério".